Nossa especialidade é bem recente, mas estamos avançando em suas mais variadas vertentes. Ensino, pesquisa, extensão, clínica e laboratorial. E em todas essas vertentes os objetivos devem ser comuns, para que possamos todos caminhar em direção a eles.
Então vamos lá, separei aqui três objetivos que considero ser os principais objetivos da Odontologia do Esporte.
. Manutenção ou aumento do rendimento físico
É permitir que um atleta que vem treinando para apresentar o seu melhor, o seu 100%, não atue em 80% (número hipotético) por problemas relacionados com sua saúde bucal. E muito disso acontece através da prevenção. Chegar antes da lesão, evitar que ela se estabeleça. Isso é atuar na saúde no esporte.
. Manter o atleta em jogo
Essa é uma verdade bruta da nossa área. Precisamos ser criativos. Precisamos promover alternativas que permitam que os atletas permaneçam atuantes. Se todas as nossas "soluções" envolvem remover o atleta de treino ou competição para que ele esteja presente em consultório para então algum procedimento ser realizado, acreditem, não teremos aceitação nenhuma.
Um bom exemplo desta situação foi o tratamento realizado no atleta Ronaldinho Gaúcho, que fez procedimentos dentro do Centro de Treinamento do Clube Atlético Mineiro, fora do horário de treino, com escolhas que envolviam tempo de recuperação mínimo, como cirurgia com o auxílio do laser, por exemplo, o que permitiu que o atleta não perdesse nenhum treino ou jogo durante o processo.
Manter o atleta sempre a disposição de seus técnicos é importante, e está relacionado com o nosso primeiro objetivo e bem por isso, que a promoção e principalmente, a PREVENÇÃO de lesões é tão importante para nós. Pois assim conseguimos ser fiéis aos nossos dois primeiros objetivos aqui já apresentados e também nos leva ao terceiro, vamos lá?
. Saúde a curto, médio e longo prazo
Em sala de aula, sempre brinco com meus alunos e pergunto. "Com quantos anos um atleta se aposenta? Não o Rogério Ceni (ídolo eterno do meu time do coração), mas uma atleta 'normal', quantos anos?". Eles sempre chutam em resposta "entre 30 e 35 anos". Chute acertado, gol.
Aí então, continuo com o questionamento: "E vocês, futuros dentistas, com quantos anos acreditam que se aposentam?". Desilusão geral na sala, lamúrias, alguns mais dramáticos dizem que esse dia não chegará e por aí vai.
O paralelo foi desenhado para que percebam que mesmo com a aposentadoria precoce, atletas não morrem com 40 anos. Pelo contrário, terão uma vida pela frente enfrentando as consequências corporais (e também mentais) do que fizeram enquanto eram atletas.
Vamos usar como exemplo aqui uma lesão bastante conhecida entre os dentistas e estudantes: Avulsão dentária. Muitas, mas muitas vezes mesmo, assistimos atletas avulsionarem durante partidas ou lutas, e descartar os dentes no banco de reservas para lidar com a situação mais tarde. Para o atleta, a lesão é apenas o visível. Porém, nós sabemos que o prognóstico destas lesões são extremamente sensíveis ao tempo, e descartar o dente assim é pedir para uma recuperação muito pior. A médio/longo prazo estaremos lidando com uma reabsorção e possivelmente instalando um implante neste atleta com necessidade de enxerto (geralmente em paciente jovem).
Portanto, quando instalamos um protetor bucal por exemplo, estamos zelando pela saúde deste atleta a curto, médio e longo prazo, algo que deve sempre guiar nossas decisões clínicas.
Este é apenas um exemplo do que é na prática esse terceiro objetivo da Odontologia do Esporte.
Vamos deixar mais conversa para semana que vem, onde vamos discutir tudo aquilo que o dentista do esporte NÃO É. Até mais,
Clara Padilha